Cura gay? A gente precisa falar sobre isso!
Texto por Thiago Maciel, do Aquarium Gays
Vocês já devem saber que o juiz federal da 14ª Vara do Distrito Federal concedeu uma liminar autorizando autores de uma ação – leia-se, alguns psicólogos – a tratarem a homossexualidade como doença.
Ele deu o parecer como liminar (no Direito, a liminar é concedida em caráter de urgência) porque segundo ele, os psicólogos da ação (…)
“(…) encontram-se impedidos de clinicar ou promover estudos científicos acerca da reorientação sexual, o que afeta sobremaneira os eventuais interessados nesse tipo de assistência psicológica”.
Parece ser engraçado – para não dizer ignorante – alguém querer reorientar alguém sexualmente, mas é serio. Foi esse o termo utilizado pelo juiz na sua liminar.
Hoje quando um psicólogo trata a homossexualidade como doença, ou seja, quando ele diz ao paciente que vai tratá-lo, curá-lo e irá fazer dele um hetero novamente, esse psicólogo pode ser denunciado ao CFP, já que ser gay não é doença, segundo o Conselho Federal de Psicologia, desde março de 1999. Essa simples retirada da categoria “doença” diminuiu e muito os índices de suicídio entre os gays, uma vez que eles não era mais taxados de “doentes”, cientificamente falando.
O que acontece agora? Com a liminar do juiz, os psicólogos que entraram com a ação podem voltar no tempo e considerar a homossexualidade como doença novamente e prometer a cura a quem procurar.
Mas por que isso é grave e está gerando tanta polêmica? É grave porque não existe cura! É impossível um gay ser hetero, assim como é impossível um homem hetero que adora mulheres ser persuadido a gostar de homens. “Ah, mas eu conheço um amigo que era casado e agora virou gay”, já li esse tipo de comentário. O que eu digo é que ele sempre foi gay, mas por algum motivo ele precisava ser hetero. Ele não virou gay, ele apenas decidiu que a felicidade dele é mais importante do que o pensamento preconceituoso da sociedade e chutou o balde.
Nós somos pessoas adultas e somos gays sem problema nenhum, mas pense em uma pessoa que está confusa que vive dentro do armário e não faz ideia que existe um “mundão” gay lá fora. É essa pessoa que vai procurar um psicólogo para tentar se entender. O problema é que antes ela ouviria do profissional a seguinte frase: “Você é gay, não há problema nenhum em ser gay. Nós vamos trabalhar isso em você ao longo do tempo”. Atualmente, com a liminar, pode ser que o mesmo indivíduo ao procurar ajuda escute do psicólogo: “Calma, nós vamos dar um jeito nisso. Existe tratamento. Você voltará a ser hetero. Conte comigo”. Entendem a gravidade do problema?
A pessoa que estava confusa e precisando de ajuda vai ficar ainda mais confusa porque um profissional da área está falando com todas as letras que ele tem um “defeito” e promete uma “cura” que nunca virá. Isso é desumano!
Outro comentário que eu li bastante nas redes foi o seguinte: “Quem quiser procurar ajuda para se tratar, procure. Quem não quiser se tratar é só não procurar”. Esse comentário é de uma ignorância sem tamanho. Se você por um acaso pensa assim, mude sua cabeça. Não existe tratamento, nem terapia que vá fazer um gay deixar de ser gay. Ponto final.
Em contrapartida, a terapia psicológica é bem vinda para fazer o gay se aceitar como gay, aquele gay que a sociedade prendeu dentro de um armário e ele tem medo de sair de lá. O bom psicólogo ajuda o homossexual a se conhecer. O profissional, que estudou para isso, sabe que não existe reorientação e nem reversão sexual. Ele sabe, assim como a gente, que isso não passa de uma piada de muito mau gosto.